domingo, 19 de setembro de 2010

042

Eu preciso de uma frase para iniciar o meu texto. E preciso de um texto, logo em seguida, para iniciar o meu dia. Nada me vem. Penso em, antes, preparar um café. Penso em ler alguma coisa para me inspirar. Mas não, não fujo. Fico queimando massa cerebral e fragmentos de espírito até dar-me conta do para que serve a literatura. E descubro, sim, descubro que ela foi inventada e existe para aplacar eternidades. Fazer literatura é como viver entre elois e morlocks, mesmo sem se sentir um deles. E descubro também que tudo em nós é crível, mas tudo é também inaceitável. E que a nossa maior felicidade é a própria incapacidade de relacionar entre si todos os acontecimentos que nos cercam. Vou teclando sem pensar e pensando em nada pensar. E sinto que logo embarco em uma traquitana que me leva para os confins de mim mesmo. E tenho todas as ideias do mundo de uma só vez. E vejo tudo em forma de sentimentos. E tudo fica muito grande. Imenso. E eu muito, mas muito pequeno diante de tudo. E tudo vira nada; e eu menos ainda. Depois volto para lembrar e sentir alegria pelo dia de hoje.

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