terça-feira, 14 de setembro de 2010

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Por onde começo? Pelo filme ou pela companhia? Vamos ao filme. Eu gostei! Ela vai mais longe: queria comer torta de blueberry, ou mirtilo, e beijar o Jude Law!, diz passando a língua sobre os lábios. A torta é muito importante. Blueberry quer dizer mirtilo; seja lá o que isso signifique. Fico sabendo que é uma fruta parecida com amora. É, eu também queria beijar a Norah Jones. Aquela boca, aqueles olhos, aquela pele, aquela voz..., eu. Dá pra parar!!!, me cutuca. Aí pergunto qual a torta que ela mais odeia. De morango com merengue!, me responde meio surpresa. Enquanto ela vai ao banheiro, peço duas fatias. Uma para cada. E café. Ela odeia café, já havia me dito. E conhaque. Ela gosta de falar mais sobre o que odeia do que sobre o que ama. Meu pai sempre dizia coisas sobre torturar as mulheres para deixá-las mais belas. As tortas chegam, os cafés também. Ambos fomos abandonados, eu e ela. Estamos vulneráveis emocionalmente. Ela desmaia de tão bêbada e de tanto comer torta de morango. Eu, obedecendo a um irresistível impulso, a beijo. Ela no chão; eu ao lado dela. Um beijo de entrar para a história; ao menos para a minha. Ao recobrar os sentidos, ela parte. Ainda mais bela. Eu fico preso à cadeira. Ela cai no mundo. Atravessa o país e cruza fronteiras escrevendo cartas para mim. A distância, às vezes, aproxima as pessoas..., explica em uma delas. Muita gente que está próxima, fisicamente, vive em uma galáxia distante, do ponto de vista afetivo e emocional!, completa. Em outra diz: e-mails são frios e instantâneos. Cartas são como tortas de morango com merengue.

Da estrada, ela relata o confronto com várias histórias de perdas – de amor, de dinheiro, da própria vida. É preciso tudo isso para que eu ganhe alguma coisa!, explica. Eu penso que já vi esse filme. Literalmente. Vivo em um curta de seis minutos com Tony Leung e Maggie Cheung, oferecido como bônus no DVD de Amor à Flor da Pele. É o mesmo, mas diferente. Outras línguas, outras culturas, outras paisagens. E relato em um blog. Vão sendo necessárias muitas postagens para falar dela, de mim, de nós dois. Descrevo tudo em cinemascope. Em formato widescreen. A tela larga não parece a mais indicada para uma história tão intimista. Mas não sei ser outro. Por vezes tento o plano contínuo, ou a profundidade de campo. Depois leio. Leio tudo outra vez. E como espectador construo o meu próprio plano. Saio da frente da tela nas nuvens. Vou ao cinema só, e espero. Compro, invariável, dois ingressos. Reservo sempre um lugar vago ao meu lado.

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