A parede se abriu e de dentro da fenda saiu ela. Vinha com todas as letras e um vestido cor de berinjela. Pediu que eu parasse com as rimas e me aprofundasse no conteúdo. Ofereceu-me vinho e logo disse que eu não precisava daquilo. Que eu devia parar de ser o que eu não era. Atirou a taça para trás e apontou para o violão que passou a tocar sozinho uma triste melodia. Recuei para dentro de mim. Ela puxou-me de volta pela barba, enfiou minha cabeça entre as tetas e disse: escreve! Meu corpo se afrouxou inteiro e: escrever o quê?!, me saí. Escreve o que é para ser escrito!, devolveu. Passei a rasgar as teclas até o dia amanhecer. Quando terminei caí em um choro tão denso que adormeci. Mas não antes de vê-la sumir por entre os escombros e a parede se soldar como estava antes.
Quando despertei continuava a sentir o seu cheiro. Tentei ler o que eu tinha escrito, mas as letras haviam sumido. E o texto, eu sabia, ainda continuava ali.
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