domingo, 12 de setembro de 2010

035


Em dias nublados gosta de sair a passear. As cores mais vivas. Os sentimentos mais intensos. Uma saudável melancolia no ar. Tudo a contribuir para o nascer das mortes. Das pequenas mortes. E das grandes lembranças. E das muitas perguntas. E dos nunca compreender. Dias de olhar as coisas e não lhes saber os nomes. Dias de mãos sobre a nuca. Dias de mudos contínuos rolando pelas ruas. E das cambalhotas da alma. Dias de não ser visto em nenhum lugar. Dias de só vagar. Dias de não buscar. E ir. De encontro ao encontro. Dias de desencontrar. Sem aflição, nem ambicionar. Dias de abrir latas; e de não cozinhar.

Até que para em frente à loja fechada. Refletido na vitrine vê-se a si mesmo a observar-se de cima. Funga de leve, olha para a luz uniforme e se repete: o melhor dos dias de nuvens é que se pode acompanhar-se sem ser visto por si mesmo. E sente um conforto. Em dias nublados não há sombras.

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