sábado, 4 de setembro de 2010

027

... e quando saí levei ela comigo.

E depois?

Depois foi só depois.

Perdi alguma coisa em algum lugar?

Não creio.

Eu não precisava ouvir isso.

Mas eu precisava lhe contar.

Por que estamos aqui?

Porque queremos, não é mesmo?!

Não estou bem certa.

Onde você queria estar?!

Com ele, com você, eu sei lá. Já não sei mais nada.

Mas é bom estar aqui, digo, você não acha?!

Apesar do peso sobre nossas cabeças, do cheiro de tecido degenerado e da umidade extrema? É, pode ser...

Por quê, “pode ser”?!

É que eu queria poder amar mais, comer mais, criar mais, viver mais. Eu queria mais. Mas nem sei para quê. Durante muito tempo fui e apenas fui. Queria ter a ele. Depois a você. Depois aos dois. Na mesma cama. E depois queria a sua esposa. Na cama dela. Acha que ela se importaria? Bem, já está feito. Não há mais nada a dizer.

Parece que está chovendo. E eu não trouxe guarda-chuva.

Vai se molhar e é só.

Mas está frio.

Nada que repouso e uma vitamina C não resolva.

...

...

Você sabia que foi Sylvan Goldman quem inventou o carrinho para carregar as compras no supermercado?! A invenção não foi imediatamente bem aceita. Os homens acharam-na afeminada e as mulheres acharam-na parecida com um carro de bebê. As mulheres se sentiam ofendidas.

Ahm.

É.

...

E como ele resolveu o problema? Ele resolveu, não é?!

Sim. Ele contratou mulheres, mais precisamente, modelos, para empurrar os carrinhos pela loja dele, fingindo fazer compras.

E depois?

Depois disso ele se tornou multimilionário.

Não, não estou mais falando do tal Sylvan Goldman. Quero saber sobre nós.

De que tipo?

Como assim: de que tipo? Do que você está falando?!

De nós.

Eu devia também furar-lhe os olhos com este garfo sujo de sangue e torta de chocolate com nozes.

Noz?!

Bem, acho que já está na minha hora.

Na sua hora?! Na sua hora de quê?!

Na minha hora de lhe dar o fora!! Isto sim...

Quando a cadeia Kentucky Fried Chicken chegou à China, o slogan “bom de lamber os dedos”, foi traduzido como “coma seus dedos”. Quando o Papa visitou o México, um erro de impressão na mensagem das camisetas que deveriam anunciar “Eu vi o Papa” (el Papa), acabou resultando em “Eu vi a batata” (la papa).

Eu não consigo. Deus do céu por que eu não consigo?!

Outro dia li na embalagem, em inglês, o aviso de segurança de uma faca coreana que dizia: “mantenha fora das crianças”.

Rá, rá, rá...

...

Espere! Acabo de me decidir.

Sobre?!

Quero passar o resto da minha vida aqui; com você. Olhando para estes espelhos no teto. Não quero mais nada além disso. Creio ser este o meu dia de iluminação. Descubra quem é o proprietário e ligue para ele, vou comprar este prédio.

E o que faremos durante os dias todos?!

Exatamente o que acabamos de fazer e o que estamos fazendo agora.

Eu te amo!

Eu sei.

E se o cara não quiser vender o prédio?

Fazemos com ele o mesmo que fizemos com esses dois pobres coitados aí.

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