domingo, 22 de agosto de 2010

014

Contar histórias era a sua participação neste mundo. Contar histórias era respirar debaixo d’água. Contar histórias era abdicar da vida em prol da própria vida. Em uma segunda-feira de chuva fina e frio moderado, publicou um livro. Mas o fato era que seu livro não projetava a imagem de uma doutrina ou de um procedimento dialético, nem de uma história nos moldes e acepções tradicionais do termo, mas a de um poeta perdido no tempo, no espaço e nos procedimentos usuais relacionados metaforicamente ao músculo cardíaco.

No tempo, porque se o futuro e o passado são infinitos, não haverá realmente um quando; no espaço, porque se todo ser é equidistante do infinito e do infinitesimal, também não haverá um onde; e nos procedimentos usuais relacionados metaforicamente ao músculo cardíaco, porque, embora, tirando a guerra, a miséria, a doença e a fome, tudo seja poesia, ele jamais fora capaz de se entregar totalmente a alguém.

E o livro se apresentou um fracasso e ele nunca mais escreveu outro. E jamais voltou a contar histórias. Mas, ainda que confuso e desajeitado, ansiou profundo por ser amado, e passou a pensar rimado.

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