Quando paramos na estação, mudei imediatamente de compartimento. Ao que parece ninguém me viu fazê-lo, o que não é de espantar, já que havia muito movimento por ali. Já era noite e o jantar estava sendo servido. Encostei a porta, recostei-me, puxei minha camisa de lã por cima do corpo e escorreguei o meu chapéu sobre o rosto. Estava escuro e as parcas luzes vinham da rua entrando funestas através dos vidros das janelas. Quando a cobra mecânica recomeçou a andar esperei ansioso pela entrada dela na cabine. E ansioso fiquei até o raiar do dia, quando chegamos ao final da linha. Desembarquei pálido e tonto. A noite em claro fazia-me delirar e a vi, no bar da estação, dentro da minha xícara de café. E depois no meio do sanduiche de presunto, grudada na manteiga. Os cabelos engordurados. E senti nojo. E decidi que não mais a queria. Enxotei-a e ela correu escorregadia por sobre o balcão. Achei que os outros clientes ficariam espantados, mas eles nem deram atenção. E então ela pulou para os lados da cozinha e sumiu. Terminei meu desjejum com calma e, quando fui ao banheiro, escutei um choro fino. Lavei logo o rosto e comprei uma passagem de volta.
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