terça-feira, 21 de setembro de 2010

044

Há um fantasma que me acompanha. Tudo bem se eu levar ele junto?! Ele não me faz tão bem, mas já me acostumei com a sua presença. Agora já tenho até medo de ficar sem ele. Não saberia mais o que usar como desculpas. Ontem ele me disse que eu devia acabar com tudo. Mas eu respondi que não. Então tá, a vida é sua!, ele rebateu. Mas eu espero sempre que alguém venha me salvar. Que apareça e diga DEU! E as coisas todas viram outras. E eu escuto deliciosas melodias. E os sabores são mutantes. Ela toma a minha mão e a leva até a sua barriga. Há um lugar específico para a minha mão debaixo da blusa dela. E eu sinto uma corrente elétrica ali dentro. E as suas costelas sobem em três cliques precisos, como os ossos de uma cobra. E a minha mão encontra a sua cintura; mais fina que uma maçaneta. E ela tem um calafrio inesperado. O meu peso me leva até ela. E as suas unhas alcançam a minha nuca. E, ao desgrudarem-se, os nossos lábios, perde-se alguma pequena coisa para sempre. Sempre. E ao abrir os meus olhos, ela já não está mais. E tenho apenas a mim e ao meu corpo. E a ele, o fantasma. Por isso não posso deixá-lo aqui. E Por isso ela sempre se vai.

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