sexta-feira, 10 de setembro de 2010

033

Eu terminava de escrever um livro enquanto tomava café e pensava que jamais seria feliz outra vez. Livros são como filhos: mais dia, menos dia, há que se jogá-los ao mundo. E o mundo é como os livros: se não fizermos um esforço para entendê-lo(s), não teremos ânimo para ir até o fim. E os filhos são como são. Ainda criança eu pensava que quando chegasse o século vinte e um eu teria trinta e três anos; e que tudo seria muito diferente. Uma das minhas perspectivas se confirmou: eu tinha mesmo trinta e três anos quando o século vinte e um chegou, mas as coisas não se apresentaram assim tão diferentes. Ainda havia carroças em meio aos carros nas ruas da minha cidade. E ainda havia amores à primeira vista; ou à primeira ouvida. E ainda havia eu tentando ser alguém; nem que fosse eu mesmo. E ainda havia dias e noites seguidos de dias e noites seguidos de dias e noites. Eu julgava que os intercomunicadores sem fio a longa distância estariam em alta, e de fato estavam. E julgava que as comunicações se fariam melhores. O enviar e o receber coisa escrita. Perdida a emoção?! É claro que não. O aguardar de uma resposta não dependia mais dos prazos estabelecidos por absoluta contingência do serviço de Correios, mas do interesse e das condições emocionais dos envolvidos. E é aí que a emoção triplica. E (re)conhecer a Cinderela ou a Alice seria muito mais fácil. E foi; e não foi. Esta sim a questão. Com a queda das verdades e o mundo em fragmentos, os antigos alicerces se fizeram de papel e isopor. E a chuva veio. E as mudanças ficaram perdidas como lembretes, bilhetes ou cartas de amor em caixas de caminhões de mudanças. Dez anos depois. Mudar sempre, mas para onde?! E o livro derretido no oceano de zero ou um; de, ou isso, ou nada. Saber onde vai parar?! Saber o quê?! Tocar sem ensaiar...





mas, o melhor e mais distante do azar: é saber que as lamúrias tendem a recomeçar em ciclos cada vez mais esparsos; e como consequência as belezas a aparecerem ao longe, em meios mais discretos – em uma geografia que se quer fantástica; e outros analectos.

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