terça-feira, 31 de agosto de 2010

023

Ao tirar a tampa nota que o que tem dentro não é o que esperava. Pensa em colocar a tampa outra vez, mas sabe que a curiosidade não o deixará. E antes que possa ter claro é puxado para dentro. Não possui bem certeza se está a gostar do ocorrido. Recebe dois chamados ao mesmo tempo. Um para continuar sendo quem é; outro para seguir a trilha obscura. Por um lado caminha, por outro rasteja. Estivera em pesadelos a noite toda e pensa estar em mais um. Surge o dragão. Ao invés de fogo, cospe palavras desconexas. Ele escuta todo o turbilhão e, sem saber como, entende a mensagem. O Monstrengo é um Guardião de Limiar e ele tem de decifrar um enigma. Cogita dar meia volta e tentar correr; ou atacar o oponente de frente; ou tentar enganá-lo; ou suborná-lo; ou aplacá-lo; ou transformá-lo em seu aliado. Mas no fundo sabe que a melhor maneira de lidar com a besta é entrar no corpo dela. Assumir sua alma. E é o que faz. Recita as palavras certas e logo está lá. Sente o corpo arder. A mente faiscar. E entende tudo de uma só vez. Todos os segredos do Universo, os axiomas científicos, as possibilidades da psique. Por um momento é o senhor da vida e o mantenedor da morte. Vê todo o passado, todo o presente e tudo do todo que virá. Para sempre. Até o final dos tempos; e além. E deseja profundo ter nascido jumento. Faz força para sair. E desvenda que já é de manhã. E descobre também que ali onde está não há despertadores.

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